Os psicoterapeutas estão nas graduações?
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por Guilherme Geha dos Santos
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A psicanálise, enquanto teoria e prática, ensina-nos diariamente que a prática psicoterapêutica é exercida a partir do desenvolvimento de capacidades emocionais para tal. No entanto, além disso, a psicoterapia é, ao menos para a psicanálise, um campo que não se resume a seu aspecto teórico. Isso ocorre por se tratar de uma experiência sensível (tanto na posição de paciente quanto de psicoterapeuta), ou seja, que não se resume aos produtos intelectuais que se construíram ali, por abarcar também experiências emocionais que dizem respeito a um vínculo criado.
Um psicoterapeuta não tem apenas uma postura psicoterapêutica, mas uma presença. Presença e postura que dão efeito a um movimento que permite olhar, conhecer, sentir, pensar e intervir no que o paciente vive.
Portanto, ao se desenvolver e exercer a psicoterapia, o profissional constrói e aprimora seu pensamento clínico: a capacidade de compreender e intervir em fenômenos psíquicos e psicopatológicos.
Caso o faça, atingirá, eventualmente, o ponto em que poderá transmitir parte de sua experiência, enquanto profissional para outros (futuros) profissionais. Isso significa transmitir algo além de um texto, mas como aquele texto participa e agrega às capacidades do profissional para colocar em movimento o pensamento clínico e a própria clínica. Não se tratará mais de um texto, mas de um conjunto de ideias que passa a fazer parte do campo clínico – influenciando-o e sendo influenciado por ele.
Perguntemo-nos, então, como pode um profissional que não está na clínica transmitir conhecimento sobre a clínica? Ele não pode. Não por incapacidade pessoal, mas por não viver e desenvolver seu pensamento clínico.
Aqui podemos chegar a uma questão atual e urgente: e se as faculdades de Psicologia estiverem organizadas de tal forma que os profissionais que clinicam não puderem ser professores e, caso consigam, não assumam disciplinas com as quais trabalham? Bom, é isso que estamos vivendo, em larga escala, tanto em faculdades particulares e especialmente em universidades públicas.
Esse questionamento se intensifica ainda mais quando pensamos no entorno. É a falta de profissionais clínicos que impede que eles estejam na graduação? É a falta das demandas que a clínica se propõe a intervir? É a falta de desejo dos alunos de se tornarem clínicos? É a falta de desejo dos clínicos de lecionar?
Os nós dessa questão impedem que a psicoterapia no Brasil se torne ainda mais séria, solidificada e eficaz. Mas o terreno em que ela se assenta é tão urgente e complexo, que o afastamento das graduações não se traduziu no definhamento da psicoterapia. Imagine se nós uníssemos esses campos.
Por que só imaginar?
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Guilherme Geha dos Santos é Psicoterapeuta de orientação psicanalítica e Diretor Acadêmico da Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Maringá, Especialista em Psicoterapia Psicanalítica Contemporânea (EPPM) e Mestre em Psicologia na linha Psicanálise e Civilização (UEM). CRP 08/20587.