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Faça repouso. Essa é a recomendação médica para os que se encontram doentes e feridos. O repouso é necessário para que o organismo se concentre na sua recuperação e regeneração. Assim, o processo que acontece no repouso é a condição para que a cura seja possível. É por isso que repousar torna-se essencial. Não por um desejo, mas por uma necessidade. A cura precisa dele.
A cura não é algo a ser perseguido, muito menos alcançado. A cura não é uma meta, um objetivo, um resultado. A cura é construção e elaboração.
Como construção é o que se faz de acordo com os recursos e as possibilidades. Como elaboração é a contribuição dos mesmos ingredientes de uma forma diferente, pois o que distancia uma deliciosa omelete de um prato de ovos mexidos não são os ingredientes, mas como você os manuseia.
Adoecer, repousar e elaborar. Essas são as fases que antes de nos levarem a algum lugar, ajudam-nos a continuar.
O intervalo, aquilo que liga a doença a curo é o repouso ou talvez ele seja a própria cura. E aqui repouso e cura se confundem.
Mas como repousar num mundo que nos leva a acreditar que a nossa segurança está na velocidade em que vivemos? Ralph Waldo Emerson diz que “quando se patina sobre o gelo fino, a nossa segurança está na velocidade”. Velocidade que nos impede de apreciar o caminho que percorremos e nos faz acreditar que o destino é o mais importante. Velocidade impossibilita que apreciemos e desfrutemos do caminho que, na maioria das vezes, é tão ou mais importante que o destino.
A cura é, então, esse caminho que por vezes tortuoso, íngreme e difícil que precisa ser percorrido com o auxílio do repouso e este, por sua vez, só pode ser suportado na presença da paciência.
Ser paciente é uma das virtudes mais nobres que alguém pode ter. Santo Agostinho fala sobre a essência da paciência num texto chamado “De Patientia”. Ele afirma que a paciência consiste na ciência da dor, pois sua raiz vem de pathos (dor + sofrimento) + ciência. Assim, ser paciente é saber sofrer, suportar a dor e conhecê-la. Dessa forma, a paciência não se origina na passividade, mas na ação de suportar, entender e conhecer o próprio sofrimento.
Não é possível desenvolver a paciência se não entrarmos em contato com a dor e se não soubermos a respeito dela. Sendo assim, a única ciência que auxilia em momentos de dor, é a ciência do sofrimento que, para Agostinho, é a própria paciência. O problema é que não nascemos pacientes, mas ansiosos. O bebê é pura ansiedade. Ele ainda não aprendeu a esperar, o único tempo que ele conhece se chama agora.
Nesse sentido, a ansiedade não é uma preocupação exagerada com o futuro, mas uma dificuldade em suportar o presente, porque o presente às vezes pesa, é cruel e nos coloca em situações que parecem não ter fim.
A notícia boa é que o presente que pesa é o mesmo que alivia. O presente que traz tristeza é o mesmo que traz alegria. O presente que provoca a dor é mesmo que sara a dor. O presente que fere é o mesmo que cura. O presente que traz a morte é o mesmo que traz a vida.
E nesse percurso da cura, nada melhor do que termos a paciência como nossa companheira. Pois é ela quem pode nos auxiliar a viver a cura como caminho e fazer do agora, um agradável, leve e alegre presente.
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Lívia Batista Pereira Larranhaga – Psicóloga CRP 08/13426
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Texto extraído do Jornal Psicologia em Foco, edição 23. Essa e outras edições estão disponíveis na íntegra em nosso site. Acesse: http://institutopsicologiaemfoco.com.br/o-jornal-psicologia-em-foco/